sexta-feira, 22 de abril de 2011

O poder verde

Essa reportagem da Revista Exame online traz importantes fatos relacionados a cultura do ''verde''. A necessidade desse perfil de indivíduo. Partes da matéria foram selecionadas, entretanto, para ler na íntegra basta acessar o link http://exame.abril.com.br/economia/mundo/noticias/o-poder-verde-m0129205


''...O segundo motivo principal por que a causa verde faz parte hoje das preocupação de muita gente é porque o aquecimento global também se tornou um assunto discutido por todos. Uma década atrás, somente os especialistas se preocupavam com a perspectiva de que a mudança climática era real, na maior parte causada por humanos e com potencial para levar à perda de espécies e a uma crise do meio-ambiente. Agora todas as pessoas estão começando a se preocupar porque estão vendo coisas que nunca viram antes acontecer em seu próprio quintal e lendo coisas que nunca tinha lido antes nos seus jornais - como um recente relatório feito pelo painel intergovermental da Organização das Nações Unidas de 2 000 peritos sobre as mudanças climáticas. O documento concluiu que "as mudanças climáticas agora estão afetando os sistemas físicos e biológicos em todos os continentes". Eu fui a Montana em janeiro e o governador Brian Schweitzer me disse: "Não temos tanta neve nas terras altas como antigamente e começa derreter mais cedo na primavera. O rio onde eu costumo pescar nos últimos 50 anos está mais quente em julho em cinco graus do que há 50 anos. Portanto, o ambiente ficou difícil para a população de trutas". Eu fui a Moscou em fevereiro passado e meus amigos me disseram que haviam acabado de comemorar o primeiro natal sem neve. Parei em Londres na volta e não precisava de casaco. Em 2006, a temperatura media na região central da Inglaterra era a mais alta registrada desde que o Central England Temperatura (CET) começou a realizar esse tipo de medição em 1659.
Sim, ninguém sabe exatamente o que vai acontecer. Mas é cada vez mais difícil achar gente que acredita que não é preciso fazer nada a respeito. Numa conversa recente comigo, o governador Arnold Schwarzenegger, da Califórnia, resumiu toda essa nova onda sobre o clima da seguinte forma: "Se 98 médicos dizem que meu filho está doente e precisa de medicação e apenas dois falam ';não, ele não precisa, ele está bem,'; eu fico com os 98. É o que diz o bom senso - e o mesmo se aplica à questão do aquecimento global. Ficamos com a maioria, a grande maioria... A questão agora é: como foi a era industrial que criou o problema, o que temos de fazer agora é achar maneiras de reverter essa situação".
Mas, como fazer isso? Agora chegamos ao primeiro empecilho para a causa "verde" mobilizar de fato todas as pessoas. A maior parte da população não faz idéia - nenhuma idéia - de qual seria o tamanho de um projeto industrial para evitar a mudança climática. Aqui temos duas pessoas que sabem: Robert Socolow, professor de engenharia, e Stephen Pacala, professor de ecologia, que juntos lideram o Carbon Mitigation Initiative em Princeton, um consórcio de pesquisas criado para elaborar soluções em larga escala para o problema climático. Num artigo publicado na revista "Science" em agosto de 2004, eles alertaram que nossa civilização tinha pouca margem a mais para emissão de carbono na atmosfera, sob o risco de chegarmos a um nível de dióxido de carbono (CO2) jamais atingido na historia geológica recente. Nessa situação, o sistema climático do planeta começa a entrar em colapso. Há um consenso cientifico, defendem os autores do artigo, de que os riscos da ocorrência de problemas aumentam rapidamente à medida em que os níveis de CO2 cheguem perto do dobro da concentração registrada na atmosfera no período pré-revolução industrial. Se isso ocorrer, teremos um padrão climático violentamente instável, geleiras derretendo e secas prolongadas, entre outras catástrofes.
"Pense na mudança de clima como se ela fosse um armário embutido. Atrás da porta, existe uma série de monstros, de todos os tipos - e essa lista é bem grande", diz Pacala. "Todo nosso trabalho cientifico diz que os monstros mais perigosos vão sair detrás daquela porta quando atingirmos o dobro do nível de CO2". Como me disse Bill Collins, que chefiou o desenvolvimento de um modelo usado no mundo inteiro para simular mudanças climáticas, "estamos realizando uma experiência descontrolada dentro da única casa que nós temos".
Então aqui esta o nosso desafio, de acordo com Pacala: se não fizermos nada e as emissões globais de CO2 continuarem a crescer ao mesmo passo dos últimos 30 anos durante os próximos 50 anos, vamos ultrapassar o ponto crítico - uma concentração atmosférica de dióxido de carbono de 560 partes por milhão - por volta do meio do século. É preciso ainda deixar espaço para o crescimento dos países desenvolvidos, que devem reduzir seu ritmo de redução de carbono, e para a evolução de nações como Índia e China, que irão emitir o dobro ou triplo de carbono em relação a seus níveis atuais, até sair da pobreza e poder se tornar mais eficientes com a energia. Tudo isso vai requerer um enorme projeto industrial global de energia.
Para dar uma idéia da escala necessária, Socolow e Pacala criaram um gráfico em formato de uma torta com quinze fatias. Algumas das fatias representam tecnologias livres do carbono ou capazes de reduzir sua emissão; outras fatias representam programas de eficiência que podem levar à economia de grandes quantidades de energia e evitar novas emissões de CO2. Eles argumentam que o mundo precisa utilizar apenas sete das quinze fatias, ou quantias pequenas de todas as quinze fatias para chegar à mesma quantidade, a fim de sustentar o desenvolvimento econômico mundial e evitar o aumento perigoso dos níveis de CO2 na atmosfera. Cada fatia, pensando-se nos próximos 50 anos, tem o poder de evitar a liberação de 25 bilhões de toneladas de carbono. Com isso, teríamos uma redução total de 175 toneladas de carbono entre os dias de hoje e o ano de 2056.
Aqui está uma modelo de como podemos escolher as sete fatias: "substituir 1 400 grandes fábricas que usam carvão por unidades industriais do mesmo porte que utilizem gás; aumentar a economia de combustível de dois bilhões de carros de 30 para 60 milhas por galão; dobrar o uso de energia nuclear para substituir o carvão; dirigir dois bilhões de carros com etanol, usando apenas um sexto da terra para o cultivo de sua matéria-prima; aumentar o uso de energia solar em 700 vezes para substituir carvão; reduzir o uso de eletricidade nas casas, escritórios e lojas em 25%; instalar sistemas de captura e de seqüestro de carbono em 800 grandes usinas de carvão". As oito fatias que restam não são menos fáceis de serem viabilizadas. Elas incluem, por exemplo, parar de cortar e queimar florestas, já que o desmatamento causa cerca de 20% das emissões de CO2 no mundo. "Nunca houve um projeto industrial na história tão grande como esse", afirmou Pacala. Combinando o aumento do uso de tecnologias limpas para a geração de energia e medidas de economia, "temos que nos livrar de 175 bilhões de toneladas de carbono nos próximos 50 anos - e ainda continuar a crescer. É possível realizar tudo isso se começarmos hoje. Mas, a cada ano que demoramos para iniciar esse processo, o trabalho se torna mais difícil - e se demoramos mais uma década ou duas, talvez se torne impossível evitar o nível crítico de carbono".

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